RICARDO SILVEIRA
MÉDICO CARDIOLOGISTA
Nesta época em que somos literalmente bombardeados por informações (verdadeiras e não verdadeiras) e atendendo a várias solicitações de pacientes e amigos, me dirijo a todos vocês tentando sumarizar aspectos científicos, históricos e muita esperança.
Cientificamente estamos diante de mais um surto viral, se observarmos a história da nossa civilização nos lembraremos de catástrofes como a peste negra (século 14), que dizimou 25% da população da Europa, a varíola (século 18), a gripe espanhola (1918) e, mais recentemente, a gripe aviária e a gripe suína. Nestas duas últimas observamos a eficácia da ciência médica em minimizar seus efeitos e impactos sociais.
O surto da virose recentemente designada Covid-19 é causado pelo coronavírus que “transbordou” recentemente de outra espécie animal. O mecanismo descrito como “transbordamento” ocorre quando um vírus, que está restrito a uma espécie, ganha características (“mutações”) que possibilitam que ele infecte outra espécie, no caso a espécie humana.
O fato de não termos tido contato com este “novo vírus” e não termos imunidade a ele, implicará na exposição de 60% a 70% da população humana.
Dos pacientes infectados, a imensa maioria não terá sintomas ou terão sintomas leves, a minoria composta principalmente pelos idosos e pacientes com outros problemas de saúde, apresentarão a forma mais grave. Nosso grande problema: a minoria que terá a forma mais grave é, casuisticamente, um grande número de pessoas capaz de esgotar qualquer sistema de saúde do mundo.
Portanto, as medidas de isolamento social e as medidas de precaução, exaustivamente apresentadas pelos meios de comunicação, são imprescindíveis e tenderão a fazer com que a transmissão entre humanos seja alentecida, possibilitando a adequação do sistema de saúde. Cabe lembrar que nosso sistema de saúde já é extremamente deficitário e necessariamente e emergencialmente terá que ser implementado para atender esta enorme demanda.
O que fazer? Além de aguardar e rezar para que um medicamento seja testado e se mostre totalmente eficaz no tratamento e no controle da pandemia, ou uma vacina seja testada e aprovada em tempo recorde, teríamos que lançar mão da tecnologia. Dados atuais mostram que quanto mais estáveis e bem controlados os pacientes crônicos e idosos estejam, menor a gravidade e a mortalidade neste grupo. Para isto é imprescindível que estes pacientes não interrompam seus acompanhamentos e retornos com os médicos assistentes. Como os pacientes com doenças crônicas e idosos poderiam manter o acompanhamento médico sem aumentar o risco de contaminação pelo coronavírus? Em março, o CFM (Concelho Federal de Medicina) legalizou provisoriamente a telemedicina como forma de manter atendimento aos pacientes com doenças crônicas sem expô-los a aglomeração e ao contágio.
Acredito que a telemedicina seja então a grande arma para enfrentarmos este momento. Através da manutenção da orientação aos pacientes crônicos (portadores de hipertensão, diabetes, arritmias, etc..) e orientação dos novos sintomas. Estaremos dando suporte a estes pacientes para que, mediante um contágio, apresentem melhor evolução e prognóstico.
Terminando, gostaria de estar fortemente unido a esta corrente, que toma todas as medidas científicas para minimizar esta pandemia e que, acima de tudo, tem grande otimismo e esperança na capacidade humana de suplantar e vencer.
Somos capazes de grandes feitos, principalmente se estivermos unidos.
“Tudo vai passar”, e após estes “tempos difíceis” estaremos mais fortes e enobrecidos com a “lição”.